Dietas: quem passa fome, engorda mais

Dietas: quem passa fome, engorda mais
Formada em Publicidade e Propaganda, desde que me formei, sempre fui apaixonada pelas redes sociais, sou redatora há mais de 10 anos, com experiência no setor da medicina estética.
Criação: 26 mai 2014 · Atualização: 10 ago 2021
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São várias as tipologias de dieta que atualmente estão disponíveis aos interessados em perder peso, umas à base de proteínas, outras que pregam uma alimentação sem açúcar, há também aquelas que trabalham com consumo reduzido de calorias diárias, além das que poderiam ser consideradas as mais “tradicionais": comer de tudo, só que em menor quantidade. Cada especialista decide, junto ao paciente, qual o método a seguir. Há, entretanto, aqueles que defendem que vivemos um verdadeiro terrorismo nutricional, um panorama nada saudável para crianças e adultos.

É o caso da nutricionista Sophie Deram, que é doutora em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Ela defende o emagrecimento sem dieta e sem cortar grupos alimentares, tratando a fome como um ato natural e encarando a comida sem culpa nem medo.

Como justificativa releva que as dietas restritivas só servem para estressar o corpo, obrigando o cérebro a alterar o metabolismo e o apetite. Segundo a especialista, nesses casos sempre há uma reação em cadeia: a restrição alimentar assusta o cérebro, que a interpreta como um grande perigo. Sem alternativas, o cérebro cria mecanismos de adaptação, aumentando o apetite e diminuindo o metabolismo do corpo. O resultado sempre é uma “obsessão" por alimento.

“Não é o estômago quem controla, é o cérebro. Ele é o maestro do nosso corpo. Mantendo comportamentos assimilados do passado, quando somente sobrevivia quem tinha gordura, até hoje o cérebro associa essa gordura como proteção. Proteção de situações difíceis, provocadas seja por estresse por causa de problemas psicológicos, uso de medicamentos ou por não comer bem, em quantidade ou qualidade."

Sophie explica que, apesar de funcionar a curto prazo, as dietas restritivas são incapazes de manter seus efeitos a longo prazo, uma verdade incontestável para 9 de cada 10 pacientes que se submetem a uma dieta restritiva. Esses pacientes, com o passar do tempo, não somente recuperam todos os quilos perdidos com a dieta, como engordam pelo menos um 30% mais. Além do mais, o risco desses pacientes desenvolverem uma compulsão alimentar é 18 vezes maior. A nutricionista destaca que a maior parte das pessoas que passam por tratamentos de transtornos alimentares, como a bulimia, por exemplo, começaram com uma dieta restritiva.

Contra todas as dietas

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Especializada em transtornos alimentares e obesidade infantil, Sophie participou de uma das edições do TEDxWomen no final do ano passado, em São Paulo, quando discorreu sobre o peso das dietas na vida de uma pessoa. Durante a conferência, pediu a todos os presentes para fecharem os olhos e pensarem no prato preferido de quando eram crianças.

“Certamente todos experimentaram uma sensação de felicidade, ao lembrar de comer alguma coisa que gostam. Minha pergunta é: será que nossos filhos terão lembranças como essa quando forem adultos?

Nascida na França e com nacionalidade brasileira, Sophie comentou que, há 20 anos, quando foi morar nos Estados Unidos, recém-formada em Engenharia de Alimentos, pôde perceber que ali existia uma guerra contra a gordura, o que a fez questionar seus conceitos. Viu que havia um mal-estar em relação à comida, observou que para muitos o ato de comer não era uma questão tranquila. Por isso, resolveu voltar a estudar, buscar referências sobre o que seria uma alimentação perfeita, entender comportamentos alimentares e expandir seus estudos para a neurociência da alimentação.

Passados tantos anos, esse cenário continua. A nutricionista ressalta que a indústria alimentícia, obrigada a diminuir a quantidade de gordura dos alimentos, aumentou a quantidade de açúcar para garantir um sabor agradável. E o cérebro adora o açúcar, que afeta o receptor da recompensa, o mesmo afetado pela cocaína. “E quanto mais come, mais quer. Não é que seja uma droga, mas é um alimento que requer cuidado na hora do consumo."

Ainda conforme Sophie, é difícil garantir uma correta nutrição com tanta informação, sendo grande parte dessa equivocada. A comida está para ser aproveitada, não só analisada a nível de calorias, carboidratos e proteínas.

“Nunca se falou tanto em dieta e nunca se teve tanto problema com o excesso de peso. Comer não pode ser restritivo, tem que ter emoção, prazer. É hora de sermos humildes e de rever nosso conhecimento. A nutrição se transformou no “nutricionismo", que é quase um terrorismo. Não existem alimentos que por si só engordam ou emagrecem, não existem alimentos bons ou ruins, não existem alimentos que curem o câncer... não existe um comer perfeito. Comer bem é comer de tudo, sem restrição, com prazer, mas escutando sua fome e emoções."

Nutrogenética não é nutrogenômica

Esses dois conceitos estão presentes na nutrição moderna e estão ligados à prevenção de doenças e manutenção da saúde como um todo. Trata-se de um tema complexo, novo e que relaciona nutrição, genética e genoma (o conjunto de moléculas do DNA de uma pessoa). Em linhas gerais:

  1. Nutrogenômica: trata de descobrir relações entre o DNA de uma pessoa e o comportamento alimentar, ou seja, como a ingestão de alimentos, nutrientes e outros compostos podem influenciar no genoma. Com a aplicação dos conhecimentos nessa área, é possível explorar as sutis diferenças entre pessoas, como por exemplo, aquelas que têm intolerância à lactose, determinando interferências da dieta na estrutura e expressão genética.
  2. Nutrogenética: como os benefícios e malefícios ao consumir determinados alimentos podem ser distintos dependendo do tipo da pessoa - constituição genética, a nutrogenética estuda justamente como essa constituição genética afeta a resposta de um indivíduo a uma dieta.
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A nutricionista Sophie Deram utiliza justamente a ciência nutrogenômica para explicar sua discordância com as dietas restritivas. Segundo a especialista, os alimentos conversam com os nossos genes, já que o DNA se expressa diferente de acordo com o entorno. Mas o DNA não é um destino. É por isso que jovens com forte propensão à obesidade, num entorno equilibrado, não chegam a desenvolver a doença.

“Caloria não quer dizer qualidade. Um refrigerante e uma salada têm mais ou menos 150 calorias e, definitivamente, não conversam com o nosso corpo da mesma forma. A salada traz vários bioativos para o corpo e o refrigerante é uma bomba de açúcar. No meu consultório, não incentivo o uso das calorias, mas aumentar a qualidade da comida e ter entendimento e consciência da saciedade. Assim é que os meus pacientes emagrecem."

Obviamente, a restrição de determinados grupos alimentares continuam valendo em casos de doença, como para os celíacos, que precisam manter uma dieta sem glúten. Para todos os demais, Sophie prega o “comer de tudo".

“Excluir um grupo alimentar da rotina de uma pessoa é muito estressante e causa o desequilíbrio diante da alimentação. Produtos light e diet não são indispensáveis para aqueles que desejam emagrecer. O melhor é optar pela alimentação mais natural, não necessariamente orgânica, mas comendo menos produtos industrializados. Um exemplo é trocar o iogurte light de morango por um iogurte natural com a fruta e uma pitada de açúcar. Comer sem pressa também é fundamental para saber quando estamos satisfeitos."

Fotos (ordem de aparição): por Alan Cleaver, Sterling College e Walmart Corporative (Flickr)

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